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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL | opinião

Sustentabilidade: obrigação ou oportunidade?

Miguel Cardoso Pinto, leader partner da EY-Parthenon

Mais do que uma obrigação, a sustentabilidade, se devidamente enquadrada na estratégia das empresas, pode revelar-se uma importante fonte de criação de valor de longo prazo





O Acordo de Paris e o Pacto Ecológico Europeu estabelecem metas climáticas muito ambiciosas, traduzindo o compromisso efetivo das principais economias mundiais com o clima e traçando diretivas claras à decisão política e à ação empresarial.

Para além de pressões regulamentares cada vez mais exigentes, o tecido empresarial enfrenta hoje fortes pressões de mercado. É cada vez mais comum que empresas de maior dimensão, que assumem a dianteira da transformação em matéria de sustentabilidade, imponham requisitos transversais a toda a cadeia de valor. De facto, se até há uns anos o compromisso com a sustentabilidade se assumia como fator diferenciador, hoje começa a ser cada vez mais um requisito para a permanência no mercado para as PME inseridas em cadeias de abastecimento internacionais, entre outras empresas.

Contudo, mais do que uma obrigação, a sustentabilidade, se devidamente enquadrada na estratégia das empresas, pode revelar-se uma importante fonte de criação de valor de longo prazo nas suas diversas dimensões. Ao valor criado no consumidor e no capital humano das empresas acresce o forte potencial de retorno financeiro. Com efeito, em 2022, a EY conduziu o estudo EY Sustainable Value*, tendo concluído que mais de dois terços das empresas auscultadas obtiveram um retorno financeiro superior ao previsto na execução de projetos de sustentabilidade, diluindo o tradicional trade-off sustentabilidade-rentabilidade.

O potencial de criação de valor financeiro de projetos sustentáveis nem sempre é evidente, pois está associado à análise do aumento da produtividade nas análises de viabilidade económico-financeira, da geração (direta) de receitas adicionais e da otimização de custos. Contudo existe, e de forma crescente. Acresce que o acesso a capital é cada vez mais condicionado pelo cumprimento de requisitos de sustentabilidade ESG e que a dotação de fundos públicos direcionados para projetos sustentáveis tem-se intensificado.

Dito isto, ainda que os estímulos à adoção de práticas sustentáveis em contexto empresarial sejam inequívocos, o progresso registado até à data fica aquém das reais necessidades do planeta. Importa, por isso, perceber que constrangimentos estão a impedir a aceleração da transformação ambicionada em matéria de sustentabilidade. Da análise realizada, a carência de competências internas necessárias, a falta de robustez na capacidade de financiamento e o enquadramento regulamentar desajustado assumem-se como as principais barreiras à transição para economias mais sustentáveis.

Deste modo, ainda que o tecido empresarial deva assumir uma posição dianteira nesta transição, existe uma clara necessidade de criação de condições de contexto que viabilizem esta ação transformativa. A transição efetiva para economias sustentáveis deve ancorar-se num amplo envolvimento de vários stakeholders, incluindo decisores políticos e organizações de suporte empresarial, num movimento único e concertado.

* O estudo EY Sustainable Value foi realizado entre julho e outubro de 2022, tendo sido inquiridas 506 empresas com receitas anuais superiores a mil milhões de dólares, cobrindo várias regiões (América, Ásia-Pacífico e EMEIA).

EY Sustainable Value Study

93% | Compromisso com clima Empresas que difiniram publicamente algum compromisso/meta de sustentabilidade

69% | Retorno financeiro Empresas com retornos financeiros superiores ao esperado em projetos de sustentabilidade

35% | Carência de competências Empresas com dificuldades em reter talento relacionado com alterações climáticas

68% | Requisitos de sustentabilidade Empresas na dianteira da transformação que colocam requisitos de sustentabilidade à cadeia de valor

Fonte: How can slowing climate change accelerate your financial performance?, da EY – Global