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O futuro pós-Covid-19 será diferente?

A pandemia de Covid-19 está a levar o sector da saúde para uma nova realidade, onde a prevenção deve ser o mote, a disponibilidade de pessoas, meios e medicamentos uma realidade e a inovação uma constante

Texto: José Miguel Dentinho



A constatação de que os custos económicos de uma pandemia podem ser enormes deverá levar a que sejam feitos muitos milhares de milhões de euros de investimentos em investigação e desenvolvimento para encontrar vacinas, terapêuticas e métodos não médicos de prevenção em relação ao aparecimento de novas doenças infetocontagiosas, que certamente surgirão. Isto pode significar, para o futuro, que poderão ser evitados muitos mais milhares de milhões de euros de perdas económicas, de vidas e de meios de subsistência de milhões de pessoas pobres em todo o mundo.

Mas os indivíduos também serão muito mais exigentes daqui para a frente em relação ao sector da saúde. Isso implicará maior eficiência de custos por parte de todos os seus agentes económicos, resultados comprovados para os pacientes e maior contribuição médica para a experiência geral em toda a cadeia de valor.

Vacinação traz esperança

No final de janeiro deste ano, enquanto o mundo continuava a ser assolado pelos efeitos da Covid-19 de forma mais ou menos intensa, o número de infetados e de mortos crescia em Portugal a uma taxa muito superior à maioria dos outros países do mundo na mesma altura. O espírito mais liberal trazido com as festividades natalícias e a posterior volta às aulas de crianças e jovens estavam a ter um impacto demasiado intenso nos efeitos da pandemia, e o país voltou a ter de fechar, tal como estava a acontecer um pouco por todo o mundo.

As vacinas criadas por diversas empresas e consórcios farmacêuticos e de investigação já estavam a chegar a todo o lado e tinham começado a ser distribuídas por cá, tal como em toda a parte, com a lógica esperada, primeiro pelos profissionais de saúde e depois nos lares, pela população mais idosa, aquela onde os efeitos da ação das diversas mutações do vírus se fazem sentir com maior gravidade.

Mas o processo estava a decorrer a um ritmo mais lento do que o prometido, aparentemente porque o sistema de produção das empresas não estava preparado para uma procura tão elevada ou as negociações entre as empresas e os governos compradores foram feitas sem terem em conta constrangimentos dos aparelhos produtivos. É um problema que terá de ser resolvido pelas organizações envolvidas, que foram, inclusive, ameaçadas por alguns governos mundiais de serem levadas a tribunal por incumprimento dos contratos. Mas isto é algo que tem pouca importância no momento. O que é essencial, agora, é salvar pessoas.

Investir é preciso

Foi a pensar nisso, certamente, que o governo alemão abriu os cordões à bolsa para comprar 200 mil doses, por 400 milhões de euros, do medicamento à base de anticorpos que salvou a vida do anterior Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O tratamento visa beneficiar pacientes adultos com sintomas leves ou moderados e risco de agravamento da doença, funcionando como vacinação passiva. “A sua administração pode ajudar os pacientes de alto risco, na fase inicial, a prevenir o agravamento da doença”, disse Jens Spahn, ministro da Saúde alemão, na conferência onde foi anunciada a compra.

Mas à medida que as campanhas de vacinação em massa são implementadas em todo o mundo, as pesquisas indicam que apenas 73% das pessoas estão dispostas a ser vacinadas, percentagem que desce até aos 40% em alguns países, lia-se no site do Fórum Económico Mundial, que estava a decorrer no final de janeiro. A última pesquisa feita pela Ipsos, empresa internacional de estudos de mercado, para esta organização mostra que os cidadãos britânicos e norte-americanos sentem grande confiança em relação à vacinação, o que não se passa na maior parte dos países integrados no estudo. Isto acontece sobretudo por causa da preocupação das pessoas em relação aos seus efeitos colaterais. Tan Chorh Chuan, executivo do Ministério da Saúde de Singapura, disse, durante o evento, que os níveis de confiança tendem a ser maiores nos países asiáticos, devido a estes serem assolados mais frequentemente por epidemias.

Heidi Larson, professora de Antropologia, Ciências do Risco e da Decisão na London School of Hygiene and Tropical Medicine, disse, por seu turno, que tem havido muitas notícias confusas sobre a chegada de novas vacinas, o aparecimento de novas variantes do vírus e muitos problemas de abastecimento, o que tem gerado um clima de incerteza e de desconfiança. “A pandemia exige que encontremos novas maneiras de construir confiança durante o período de crise”, afirmou. É algo muito importante, porque as primeiras vacinas contra a Covid-19 já foram administradas, cá e no resto do planeta, o que nos dá a esperança de que o fim da pandemia possa estar próximo, apesar do período difícil que atravessamos. É algo que nos lembra, sobretudo e mais uma vez, que não há caminhos fáceis e que precisamos de os percorrer, neste caso para salvar pessoas não só dos efeitos do vírus, mas também de outras doenças e dos acidentes que continuam a ocorrer.

O papel das tecnologias digitais

O papel das tecnologias digitais poderá ser cada vez mais importante na forma como a indústria farmacêutica interage com os seus clientes, médicos e o público em geral, tanto a nível comercial como de comunicação. Uma alternativa aos regulamentos que condicionam a publicidade massificada neste sector poderá ser o aproveitamento dos canais de marketing mais focados nos relacionamentos, menos tradicionais, mas talvez mais alinhados com um novo ambiente futuro que ligará pacientes, prestadores de cuidados de saúde e pagadores e terá resultados baseados em valores e na prevenção de doenças crónicas, por exemplo. Poderá usar a Internet como ferramenta de colheita de informações e de marketing especializado, direcionado aos pacientes certos. As empresas farmacêuticas que dispensarem mais atenção àquilo que os prestadores de cuidados de saúde, as empresas e instituições que pagam, como companhias de seguros e outras organizações, e os pacientes pedem poderão lucrar mais com o crescente mercado mundial de cuidados preventivos.

A pandemia causada pela Covid-19 está a mudar o mundo. Não só na forma como nos relacionamos uns com os outros, mas também na maneira como temos de estar no futuro, quando tudo voltar à normalidade, que será outra certamente. A prevenção deve ser o mote, a disponibilidade de pessoas, meios e medicamentos uma realidade e a inovação uma constante.