A utilização de um automóvel existirá sempre, seja pública ou privada

Hélder Pedro, secretário geral da Associação Automóvel de Portugal – ACAP

A automação e a eletrificação dos automóveis irão transformar o setor dos transportes, refere o secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal numa entrevista em que faz uma breve análise das principais mudanças no mercado nacional

De que forma a transformação tecnológica em curso está a mudar o mercado automóvel?

A eletrificação do automóvel está a transformar radicalmente o mercado automóvel. A maioria dos sistemas de um veículo passaram a ser elétricos ou eletrónicos, desde a propulsão à condução. Os carros do futuro terão menos acidentes e menos avarias.

A condução autónoma irá alterar profundamente o setor dos transportes, quer de pessoas quer de mercadorias. O impacto no setor da produção, do comércio e da reparação é neste momento dificilmente previsível, mas será certamente de enormes proporções.

Como é que o segmento das frotas, e das gestoras de frotas, se tem vindo a posicionar no mercado automóvel nacional? Tem vindo a conquistar espaço?

Sim, as gestoras de frotas constituem hoje em dia um canal de distribuição com um peso considerável no mercado automóvel, tendo vindo a ganhar dimensão nos últimos anos. A incerteza quanto aos valores residuais futuros, quer dos automóveis elétricos, quer dos diesel, tornou o renting uma opção muito interessante, uma vez que transfere para a gestora de frotas essa incerteza.

Por outro lado, para as empresas que têm de adquirir veículos constitui uma forma de externalizar um serviço que não constitui o seu core business e mantém os custos sob controlo.

“as gestoras de frotas constituem um canal de distribuição com um peso considerável no mercado automóvel”

Na sua opinião, que desafios mais prementes se colocam atualmente ao setor das frotas?

Sem dúvida que é a gestão dos valores residuais futuros, por um lado, dos veículos elétricos, os quais podem ficar de um momento para o outro obsoletos, perdendo valor, e, por outro lado, dos veículos diesel, pois existe uma grande indefinição a este respeito.

Globalmente, que tendências antevê para a indústria automóvel, tendo em conta questões como a mobilidade elétrica e a automação, tão na ordem do dia?

Uma característica da sociedade moderna é a crescente procura de serviços de mobilidade, quer seja ao nível do transporte aéreo, quer terrestre. Mesmo que muitos consumidores prefiram deslocar-se de Uber a dispor do seu próprio veículo, a utilização de um automóvel existirá sempre, seja ela pública ou privada.

A mobilidade elétrica irá ajudar na resolução de um antigo problema da indústria automóvel, que é o impacto ambiental, o que, a par de outros desenvolvimentos tecnológicos que irão contribuir para uma redução significativa das emissões poluentes, permitirá um crescimento muito significativo do mercado e da indústria automóvel.

Qual foi o desempenho da indústria automóvel no ano passado em termos de números?

Em 2019 foram produzidos em Portugal 345.688 veículos automóveis, ou seja, mais 17,4% do que no ano anterior, o que constituiu o melhor ano de sempre da indústria no nosso país, tendo este valor superado o número de veículos vendidos.