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especial saúde | opinião

Previsão, planeamento e boa gestão

Paula Vaz Marques, diretora clínica e vogal executiva do CA do CHTMAD *

Retrato de uma pandemia no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro





O Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), que serve uma população de cerca de 300 mil habitantes, iniciou, perante a eminência da pandemia provocada pelo Sars-CoV-2, um conjunto de iniciativas para responder aos seus efeitos. Em primeiro lugar, procurou prever cenários para planear ações concretas, visando o tratamento adequado dos doentes e a proteção dos seus profissionais. Foram também reforçados os recursos humanos, equipamentos de proteção individual (epi), meios de diagnóstico e rastreio e instalações e equipamentos. O planeamento estratégico iniciou-se em janeiro de 2020, com as primeiras reuniões com a equipa local do Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infeções e das Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA) e a programação da formação a todos os profissionais de saúde sobre o novo coronavírus.

Formado pela diretora clínica, enfermeiro diretor e diretores de serviços mais diretamente envolvidos na prestação de cuidados aos doentes e suspeitos de Sars-CoV-2, coadjuvados por elementos de serviços de apoio, foi criado o Grupo de Crise Covid. Reunindo diariamente, procura, desde o início, antever cenários e planear e operacionalizar a resposta à pandemia.

Em paralelo, foi criada uma equipa multidisciplinar, que elaborou o plano de contingência do CHTMAD, e foi nomeado um grupo de profissionais encarregue de rever toda a bibliografia e normas da DGS e elaborar protocolos para todos os tratamentos e procedimentos serem efetuados à luz do conhecimento mais recente. Um outro grupo adequou o tipo de equipamento de proteção individual a cada serviço/tarefa, antecipando as normas emanadas pela DGS.

Inicialmente, o mercado não dispunha de oferta de EPI. Para garantir os fornecimentos, foram muito úteis as doações da sociedade civil e a reconversão das linhas de produção de empresas nacionais. Mediante acordos de fornecimento, com pagamentos diários no ato de entrega, foi possível a criação de stocks, monitorizados e distribuídos diariamente, dotando os profissionais de saúde dos meios de proteção adequados.

Para evitar contaminações cruzadas, foi decidido que os profissionais alocados a áreas Covid/suspeitos não deveriam contactar os utentes não Covid e foram definidos circuitos de doentes, requalificando ou construindo instalações. Também foram criadas áreas de atendimento Covid nos diversos serviços de urgência.

Os cenários oriundos de países como Espanha e Itália levaram este centro a optar pela instalação de tendas no exterior dos SU, com pressão negativa, climatização e renovação de ar, e boxes de isolamento para doentes suspeitos ou positivos que, após resultado do teste ao Sars-CoV-2, seriam encaminhados segundo critérios clínicos. Este esforço foi recompensado: o CHTMAD teve uma taxa reduzida de contaminação dos seus profissionais (cerca de 0,6%).

Foram criadas 139 novas camas de internamento Covid de nível I e dotadas seis enfermarias com pressão negativa nos internamentos de Obstetrícia, Pneumologia e Cardiologia e em seis postos de hemodiálise. Só houve doentes Covid internados na unidade de Vila Real e muito aquém da lotação total.

O Serviço de Medicina Intensiva (SMI) foi separado em dois. A área não Covid ocupou parte do Bloco Operatório (BO) de Vila Real e a não Covid o próprio serviço. Durante cerca de três meses a capacidade do BO foi quase exclusivamente utilizada em cirurgias urgentes. Em junho, o SMI foi requalificado, dando origem a duas UCI: uma para doentes infetados e outra para doentes não infetados.

O Laboratório de Patologia Clínica, fulcral no sucesso da resposta à pandemia, foi também intervencionado, com ampliação, reorganização e requalificação do espaço, aquisição de equipamentos e criação de zonas de pressão negativa, evitando contaminações cruzadas e infeções nos profissionais. Estão ainda em curso algumas obras de requalificação, aquisição de equipamentos e construção de pavilhões adequados para instalar o SU Covid em Vila Real e Chaves e reajuste do espaço em Lamego, todos dotados de layouts ajustados, tratamento e renovação de ar, salas de Rx, postos de colheitas e zonas de isolamento de utentes.

O sucesso alcançado na resposta à primeira vaga da pandemia deveu-se também à qualidade, empenho, espírito de sacrifício e de equipa de todos os seus profissionais. Mas o desafio continua a ser grande: manter a atividade assistencial normal e conviver e combater o vírus Sars-CoV-2.


* Com Júlio Azevedo, enfermeiro diretor e vogal executivo do CA do CHTMAD, e Fernando Alves, vogal executivo do CA do CHTMAD.