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especial teletrabalho | casos de sucesso

O futuro passa pelo equilíbrio

João Viana Ferreira, partner responsável pela área de Consultoria de Gestão da everis

João Viana Ferreira, partner responsável pela área de Consultoria de Gestão da everis, considera que o teletrabalho não será, no futuro, a forma de trabalho de todos os colaboradores das empresas. Para este responsável, será mais uma ferramenta para garantir a disponibilidade de uma força de trabalho flexível, motivada e preparada, equilibrando o teletrabalho com o trabalho presencial.

O teletrabalho é uma solução dos tempos modernos?

O teletrabalho não é “a” solução, mas parte da resposta. Um conjunto alargado de empresas, em setores que o permitiam, já estava bastante preparado para o teletrabalho, com portáteis, VPN e ferramentas colaborativas. Na everis, por exemplo, foi fácil colocar, em poucos dias, quase todos os nossos 1100 colaboradores em teletrabalho. Mesmo assim, tivemos de aprender a trabalhar desta forma. Se antes o fazíamos ocasional e voluntariamente, face à situação atual foi necessário um período de transição para isso acontecer, que ainda não está terminado.

De qualquer forma, não vemos o teletrabalho como “a” solução, nem prevemos que, no futuro, seja a forma de trabalho de todos os colaboradores. Será mais uma ferramenta para garantir a disponibilidade de uma força de trabalho flexível, motivada e preparada, equilibrando o teletrabalho com o trabalho presencial.

Quais são os principais benefícios do teletrabalho para uma empresa?

Preferimos olhá-los como benefícios potenciais. Se o modelo for mal implementado e não existirem condições específicas para este trabalho poder ser bem desempenhado, a empresa e os seus colaboradores podem ser prejudicados, tanto do ponto de vista pessoal como profissional.

Assumindo que as condições necessárias existem, a organização não precisa de tanto espaço físico de escritório, o que, nos últimos anos, estava a tornar-se dramático em algumas cidades. O teletrabalho também permite envolver mais facilmente pessoas que estão em diferentes localizações físicas sem necessidade de deslocação e facilita a captura do talento, pois os colaboradores veem como positiva esta possibilidade. Há ainda maior responsabilização dos colaboradores pelo desenvolvimento do seu trabalho e uma provável diminuição do absentismo, devido ao incremento da flexibilidade.

E para as suas pessoas?

Depende muito da forma como o modelo é montado. No caso positivo, permite uma maior flexibilidade e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, o que gera o aumento da sua motivação. Pode conduzir a um maior empowerment e responsabilização de cada colaborador pelo seu trabalho diário e tem, obviamente, uma componente financeira associada à poupança no custo das deslocações, tanto em tempo como em dinheiro, que será equilibrada pelo crescimento do consumo de eletricidade e wi-fi na habitação.

“Em algumas empresas a gestão e acompanhamento de equipas sem controlo presencial ainda não é bem aceite”

Quais são as condicionantes principais ao desenvolvimento do teletrabalho por parte das empresas e das suas pessoas? Como é que se pode resolver o problema?

Ao longo deste processo, que para nós já é longo, identificámos condicionantes tecnológicas e culturais. As primeiras incluem temas óbvios, como portáteis, VPN, cloud, ferramentas internas preparadas para acesso remoto, ferramentas colaborativas para trabalho remoto, wi-fi/dados, redes sociais internas… As segundas são mais complexas e envolvem o modelo cultural da empresa, de cada equipa e de cada pessoa.

Em algumas organizações, a gestão e acompanhamento de equipas sem controlo presencial, com foco nos resultados e não no horário, ainda não é bem aceite, principalmente para os líderes, que consideram que a proximidade física lhes dá uma falsa sensação de controlo. A solução passa por comunicar e dar feedback, acompanhar o desenvolvimento de atividades mais complexas e promover momentos sociais de forma não presencial (a cerveja ao final do dia, o almoço partilhado, o café...). Para nós, esta viagem já é longa.

A única forma de resolver o problema tecnológico é, efetivamente, investir e criar condições mínimas. Já o cultural passa por perceber que o modelo de liderança é completamente diferente e requer a preparação das pessoas a todos os níveis hierárquicos.

Na situação atual existe uma condicionante muito particular para uma fatia grande da população. É o facto de as pessoas terem, ao mesmo tempo, de trabalhar, muitas vezes sem condições tecnológicas para tal, como portáteis ou dados, e apoiar crianças em idade escolar no dia a dia. É neste momento um fator grande de stress e requer sempre uma grande dose de paciência e flexibilidade de todos os envolvidos: empresa, colaboradores e filhos. A disponibilização de portáteis para os descendentes dos colaboradores e de complementos com pacotes de dados adicionais para serem consumidos na habitação pode em parte atenuar esse efeito.

O trabalho remoto veio para ficar? Depois da experiência por que a humanidade está a passar, qual será o futuro do trabalho?

Provavelmente vai continuar a crescer, dado que tanto os colaboradores como as empresas perceberam que isso é possível. Mas não acreditamos que seja um modelo exclusivo e permanente. Haverá é um maior equilíbrio entre o presencial e o remoto para a maior parte dos colaboradores.

Na situação atual isso pode implicar elevados níveis de stress. Por isso é necessário implementar um conjunto de regras claras para gerir esta forma de trabalhar. A não separação entre o horário de trabalho e o pessoal, a realização de mais reuniões, mas mais curtas e mais intensas, a ideia de que não é preciso vestir tão bem ou que se deve fazer ginástica em casa são conceitos ainda não totalmente compreendidos. Mas têm impacto no estado mental e na motivação dos colaboradores e na sua produtividade a longo prazo. Por isso consideramos que o futuro do trabalho poderá passar por um equilíbrio entre o presencial e o remoto, que será encontrado à medida que formos percebendo o que funciona ou não, para irmos adaptando a nossa forma de trabalhar.

“É necessário implementar um conjunto de regras claras para gerir o trabalho remoto”

Nem todas as atividades de trabalho poderão ser desempenhadas em regime de teletrabalho. Qual será o melhor ponto de equilíbrio em setores industriais, por exemplo?

Depende muito de cada indústria e de setor. Mas é óbvio que em grande parte do setor industrial não é possível o teletrabalho em algumas funções. Mas gostávamos de realçar dois aspetos. Por um lado, com a robotização e digitalização gradual dos processos industriais há uma tendência para o crescimento do trabalho remoto neste campo, que tem sido pouco destacado mas poderá ser reforçado por esta crise. Por outro lado, a forma como alguns setores se conseguiram adaptar reforçou tendências que já existiam, como uma restauração focada nas entregas, retalho via online, combinação entre plataformas de transportes e setores de restauração/retalho... Tudo isto levanta um conjunto de questões. Quais as empresas melhor preparadas para responder a um mundo com mais teletrabalho? São as muito grandes, as médias ou as mais pequenas? São as mais flexíveis?

Hoje há muitos profissionais a trabalhar a partir de casa. O que é que se passa habitualmente na everis neste campo e o que é que mudou com esta crise?

Para nós já era normal um modelo de trabalho flexível, mas não na dimensão atual. Estávamos preparados do ponto de vista tecnológico e cultural, até porque o trabalho remoto está alinhado com um dos nossos valores fundamentais, a liberdade responsável de cada colaborador. Desde os primeiros dias de pandemia que a quase totalidade dos nossos colaboradores trabalha de forma remota, sem grandes entraves à operação.

De qualquer maneira, como o contacto com os nossos clientes e parceiros ainda era muito presencial, tivemos de nos adaptar à nova realidade e estar com eles de forma mais remota. Continuar a comunicar aquilo que nos diferencia e o tipo de oferta que temos de forma menos presencial é hoje um desafio interessante. que temos resolvido com grande envolvimento e empenho por parte das nossas pessoas.

Estamos, obviamente, expectantes com o regresso, pois sabemos que os nossos colaboradores estão ansiosos por retomar a presença física e social, como a maioria da população. No médio prazo, como tendência, prevemos um maior equilíbrio entre o trabalho remoto e o presencial, provavelmente com maior flexibilidade na gestão destas situações, mantendo uma grande exigência ao nível da entrega e da responsabilização individual de cada colaborador.


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