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ambiental | ENTREVISTA

Economia circular dos óleos lubrificantes usados contribui para reduzir consumo de recursos naturais

Luís Gameiro, Diretor Geral da Sogilub

Gerido pela Sogilub, o Sistema Integrado de Gestão de Óleos Usados (SIGOU) nacional, engloba empresas de gestão e reciclagem e assegura o tratamento de resíduos de óleos usados em condições ambientais adequadas





S egundo Luís Gameiro, Diretor Geral da Sogilub, o SIGOU acompanha os óleos lubrificantes em todo o seu ciclo de vida, desde que nascem, quando os óleos novos são usados, até ao encaminhamento para destinos autorizados, para reciclagem ou regeneração em óleo base, que iniciará novamente o ciclo.

A sustentabilidade ambiental de um país como Portugal implica também uma economia mais circular, que contribua para a redução da delapidação da natureza e diminuição da deposição de resíduos e consequente poluição. Quais são os principais sectores onde a circularidade terá impacto mais significativo?

Para responder a essa pergunta há que entender claramente o conceito de economia circular, no qual o valor dos produtos e materiais é mantido durante o maior tempo possível, a produção de resíduos e a utilização de recursos reduzem-se ao mínimo e, quando os produtos atingem o final da sua vida útil, os recursos mantêm-se na economia para serem reutilizados e voltarem a gerar valor. Isso reveste-se de particular importância numa economia como a portuguesa, onde os recursos são escassos e a escala é reduzida.

Por outro lado, não se conseguem diluir os impactos negativos de uma má gestão económica e ambiental, como em outras economias, aportando potenciais passivos dificilmente revertíveis no tempo e no espaço. Respondendo concretamente à sua pergunta, julgo que os setores onde a circularidade terá impacto mais significativo, em Portugal, serão relativos a fluxos de materiais específicos, como o plástico, os resíduos alimentares, as matérias-primas críticas, a construção e demolição, a biomassa e os produtos de base biológica. Contudo, é minha convicção que todos os setores terão, no futuro, um impacto crescente e significativo para a economia circular, gerando novas oportunidades de negócio, fazendo surgir novos modelos empresariais e desenvolvendo novos mercados, promovendo a valorização de subprodutos e resíduos, atuando sobre a prevenção, facilitando o desenvolvimento de estratégias e mecanismos de extração de recursos e, por fim, fortalecendo as economias que apostam nesta mudança do paradigma económico de “linear” para “circular”.

O óleo lubrificante usado pode ter um impacte ambiental muito grande, já que apenas um litro de óleo é suficiente para contaminar 1.000.000 litros de água

Porque é que se deve reciclar óleos usados? Qual o impacto que a sua deposição em aterros ou nos esgotos industriais e domésticos poderá ter na Natureza se isso não acontecer?

Entende-se por “óleos lubrificantes usados” quaisquer lubrificantes, minerais ou sintéticos, que se tenham tornado impróprios para o uso a que estavam inicialmente destinados. São resíduos classificados como perigosos, de acordo com a legislação em vigor, sendo a sua correta gestão uma condição indispensável para a preservação do ambiente e da segurança das populações.

Potencialmente inflamáveis, podem estar contaminados com metais ou outras substâncias perigosas. O óleo lubrificante usado pode ter um impacte ambiental muito grande, já que apenas um litro é suficiente para contaminar 1.000.000 litros de água. Os óleos lubrificantes usados não se dissolvem na água e, na sua grande generalidade, não são biodegradáveis. Para além disso, formam películas impermeáveis que impedem a passagem do oxigénio e destroem a vida, tanto na água como no solo, e espalham substâncias tóxicas que podem vir a ser ingeridas pelos seres humanos de forma direta ou indireta. Daí, que seja fundamental garantir a sua recolha, segregação e entrega ao SIGOU, que engloba as empresas de gestão e reciclagem de óleos usados e é a forma mais fácil e eficaz de cumprir todas as obrigações que a legislação estabelece para este fluxo de resíduos, e de assegurar o seu tratamento em condições ambientalmente adequadas.

Como é constituído o sistema de Gestão de Óleos Usados em Portugal?

Nascendo de um princípio basilar muito simples, o da “responsabilidade alargada do produtor”, que pode ser assumida individualmente ou através de um sistema integrado, o SIGOU é um espelho interessante de uma micro economia circular gerida pela Sogilub, em que esta, tendo a propriedade do resíduo de óleos lubrificantes, o acompanha em todo o seu ciclo de vida, desde que nasce, através do uso do óleo novo, passando pela recolha, transporte, controlo analítico, armazenamento, tratamento, até ao encaminhamento para destinos autorizados do óleo pré-tratado, onde pode ser reciclado ou regenerado (re-refinação) em óleo base que iniciará novamente o ciclo. Ao longo deste ciclo de vida do óleo usado, e também da sua cadeia de valor, existem várias características do SIGOU, promovidas pela Sogilub, que vão ao encontro dos princípios da economia circular. São elas a Ecoeficiência (utilização de menos MP ou MP regeneradas), o eco design (maior facilidade na reciclagem, menor conteúdo de substâncias perigosas), e o princípio da prevenção.

Quais têm sido as principais inovações nesta área, e quais têm sido os resultados?

A inovação começou desde o nascimento da Sogilub. Sendo uma das poucas entidades gestoras que desde a sua génese teve abrangência nacional, pois recolhe óleo usado desde Bragança até à ilha do Corvo, nos Açores, é também das poucas a não centrar o sistema em centros de recolha, mas sim na recolha no produtor, mitigando assim o risco de derrames.

Sempre foi um desafio tirar o máximo partido deste resíduo. Entre as principais inovações implementadas estão a melhoria da segregação, para maximizar a regeneração; mecanismos de amostragem integrados nas viaturas cisternas; sensorização de reservatórios com o objetivo de otimizar as recolhas e desmaterialização documental aquando da recolha, pois todos os motoristas têm tablets ligadas ao SI-OIL (Sistema Informação Interna do SIGOU). Ao nível de segurança, inovámos através da utilização de alarmes nas cisternas para evitar os sobre enchimentos, e criámos uma Aplicação (Smartlubi) para simplificar o processo de pedido da recolha.

Os resultados alcançados do trabalho feito até agora falam por si. Hoje em dia os passivos desta fileira de resíduos, bem como o mercado paralelo, tanto de óleo lubrificante novo como de óleo lubrificante usado são residuais, não existindo queimas ilegais. E, em 2021, a Sogilub cumpriu todas as metas a que se propôs e a que era obrigada pela sua licença.

Hoje em dia a fileira não tem passivos, não existem queimas ilegais e o mercado paralelo de óleo lubrificante novo e de óleo lubrificante usado é residual

A boa gestão de um sistema como este implica a garantia da sua sustentabilidade ambiental, mas também da sua eficácia, para que todos os envolvidos consigam gerar também resultados económicos. De que forma é que a Sogilub consegue assegurar isso?

Um bom começo é fundamental, e a Sogilub tem, desde o início, os parceiros ideais, empresas e entidades que compreendem as características deste fluxo de resíduos e se guiam pela eficiência e coerência nas ações. Tudo o resto vem por arrasto. Um projeto como o SIGOU, não se consegue sem a colaboração e o empenho de todos os envolvidos.