MENU
dossiê promocional
especial PME | ABERTURA

O desafio do crescimento

Importantes na criação de emprego, essenciais nas exportações, em suma, fundamentais no desempenho da economia, as pequenas e médias empresas nacionais, vulgo PME, representam mais de 90% do tecido empresarial português.



Os dados da Pordata relativos à percentagem de micros, pequenas e médias empresas no total de empresas nacionais indicam que em 2017 estas atingiram 99,9 %. Dois anos depois, os números do impacto das PME não devem andar muito longe destes, tendo em conta a consistência destes valores desde 2004.

Números à parte, é-lhes reconhecido o papel fundamental que desempenham na indústria nacional, na agricultura, nos serviços, nas TIC… ou seja, em todos os segmentos empresariais, com mais ou menos impacto em cada um deles.

Mas a tarefa de “motores da economia” nacional, como muitas vezes são apelidadas, não se revela fácil, uma vez que os desafios que as PME enfrentam no cenário empresarial marcadamente competitivo que se vive hoje envolvem a necessidade de qualificação dos recursos humanos, de modernização, de inovação tecnológica (como, por exemplo, a digitalização), de internacionalização, de investimento e de políticas públicas que promovam o ambiente negocial. Desta forma, o desafio do crescimento será menos penoso para as empresas, ao mesmo tempo que são potenciados a competitividade e o aumento das exportações.

Com um número total de pequenas e médias empresas que ultrapassa as 40 mil (44.048), segundo o painel Iberinform relativo a 2018, o mercado nacional de PME é dominado pelos setores de comércio por grosso (exceto de veículos automóveis e motociclos), com 7607 empresas (17,27% do total), pelo comércio a retalho (exceto de veículos automóveis e motociclos), com 5951 empresas (13,5%), e pela promoção imobiliária (desenvolvimento de projetos de edifícios) e construção de edifícios, com 2393 empresas (5,43%), só para citar o top 3 dominante nas PME nacionais, por setor de atividade, no ano passado, de acordo com a Iberinform.

Acompanhar a modernização

À margem da entrevista publicada nas páginas seguintes, o presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP) destacou a elevada capacidade de resistência e resiliência das empresas portuguesas, quer no segmento das micro, pequenas e médias empresas, quer no das grandes empresas, sobretudo em momentos menos bons da nossa história económica. E num cenário cada vez mais dominado pela globalização e pela tecnologia, Luís Miguel Ribeiro crê que “as empresas e os nossos empresários continuarão a fazer tudo o que está ao seu alcance para vencer com sucesso os desafios da globalização e da revolução tecnológica em curso”. Mas para que isso aconteça não tem dúvidas de que é necessário que as empresas possuam recursos humanos com competências ajustadas às reais necessidades do mercado. “Este é seguramente um dos maiores desafios que temos pela frente face à situação em que Portugal se encontra.” Um desafio que envolve a educação – porque, lembra, mais de 40% da população empregada têm, no máximo, o ensino básico – e pelo nível de qualificação, igualmente baixo.

Por isso, “temos de nos preparar, e muito rapidamente. De outro modo estará comprometido o futuro de Portugal, pelas implicações que esta matéria tem ao nível da produtividade e competitividade das empresas e do país – uma produtividade que é relativamente baixa e que continua a não dar sinais de qualquer inversão da sua trajetória descendente”, salienta o presidente da AEP, acrescentando que “Portugal deve ter um papel ativo face aos exigentes desafios, no sentido de aumentar o nosso nível relativo de desenvolvimento socioeconómico”.

Instrumentos de apoio

Sejam sob a forma de programas de qualificação ou de mecanismos de apoio financeiro, os instrumentos de apoio promovidos por entidades como o IAPMEI ou a AICEP, entre muitas outras, são peças fundamentais para a ajudar à competitividade das PME. Um dos mais recentes foi apresentado em meados de setembro pelo Ministério da Economia e consiste numa linha de crédito, na ordem dos 100 milhões de euros, que visa apoiar as empresas familiares na transição para gerações seguintes e aumentar a sua escala. O projeto insere-se no âmbito do Programa de Apoio à Sucessão Empresarial e Incremento de Escala e pretende fomentar a competitividade das pequenas e médias empresas no mercado global, assim como facilitar o financiamento de processos de sucessão e de aquisição, tendo em vista o desenvolvimento de negócios, exploração de sinergias e ganhos de produtividade, de acordo com a informação disponibilizada à data.

Portugal tem que apostar numa política de encorajamento ao investimento

PME e empresas familiares andam de mãos dadas, explica Peter Villax, presidente da Associação das Empresas Familiares.


PETER VILLAX, presidente da Associação das Empresas Familiares


Os dados de mercado apontam para que mais de 90% das PME nacionais sejam empresas familiares. Como é que essa característica se reflete nos modelos de gestão e no sucesso (ou não) empresarial das mesmas?

A empresa familiar é a forma mais normal de organização no que respeita a pessoas coletivas, com uma especificidade muito própria, que é a de trazer a dinâmica familiar para dentro de uma organização empresarial. Gerir uma empresa familiar comporta inúmeros desafios, desde logo a gestão do nível familiar e do negócio em si.

Na dimensão familiar, há que enumerar a sucessão, a harmonização entre o papel da família e o papel da empresa e a evolução dos valores. Para crescer, a empresa precisa de se profissionalizar, que é uma das maiores mudanças, pois implica dar poder e autoridade a pessoas que não são da família. Estes profissionais trazem um conhecimento muito importante, que permite à empresa subir de divisão, jogar noutro campeonato.

Outro desafio a resolver é o da sucessão, tanto de uma geração à outra como de um dirigente ao seu sucessor. Nem sempre é fácil gerir uma organização familiar, pois os acionistas também são irmãos e primos, e aqui há uma componente emocional, que está ausente nas não familiares e que complica a gestão pura.



Referiu diversas vezes que as “empresas familiares são a espinha dorsal da economia”. Mantém essa opinião?

Não sou eu que digo, são as estatísticas. Espinha dorsal, motor ou alma da economia, são 70% do PIB e um valor semelhante do emprego. Sem esquecer o papel que as empresas, todas, tiveram na recuperação da economia desde a crise e no aumento de exportações e da grande redução no desemprego. Em 10 anos, de 2008 a 2018, as exportações aumentaram de 28% para 44% do PIB. É obra.

O crescimento da economia só se pode fazer através do crescimento significativo do PIB, e traçamos para o efeito uma meta de crescimento ambiciosa de 4% por ano. É um desafio que colocamos não só ao Governo como aos trabalhadores, aos sindicatos e às próprias empresas.



Como é que as PME de cariz familiar estão a lidar com a transformação digital?

Parece-me que estão no mesmo nível que as demais, a considerar essa transformação com prudência. Mas como se adaptam muito rapidamente, uma vez abraçada essa transformação será rápida.



O que devem as entidades fazer por este perfil de empresas no sentido de as apoiar?

As empresas familiares não ambicionam um apoio diferenciado, mas a melhoria de certos obstáculos administrativos, nomeadamente questões de licenciamento e de simplificação fiscal, que seriam bem-vindas para nós e para a toda a economia. A chave está na estabilidade.

Estabilidade orçamental (ou pelo menos mais previsibilidade), legislativa e fiscal. Veja-se o exemplo do Luxemburgo e a forma como atrai e acolhe as empresas. Oferece uma legislação muito estável, que compreendeu as necessidades das organizações e produziu legislação adaptada. Portugal tem de apostar numa política de encorajamento ao investimento, reconhecendo que os investidores, pequenos ou grandes, são essenciais para o crescimento da riqueza do país.