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especial PME | entrevista

“É necessário alargar a base exportadora”

Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP

A ocupar a presidência da Associação Empresarial de Portugal (AEP) há cerca de três meses, Luís Miguel Ribeiro conhece bem o mercado nacional das pequenas e médias empresas. Numa análise transversal do setor, retrata o perfil deste universo empresarial e aborda os principais desafios que enfrenta.



Em traços gerais, e tendo em conta que cerca de 90% do tecido empresarial nacional são compostos por PME, como avalia o papel destas na revitalização da economia?

O segmento das PME é, de facto, o que prevalece na estrutura empresarial portuguesa. Uma análise mais detalhada permite constatar que a nossa estrutura produtiva é composta, na esmagadora maioria, por empresas de reduzida dimensão. As empresas com menos de 10 pessoas ao serviço representam mais de 96% e absorvem quase metade (45,5%) da totalidade do pessoal ao serviço nas organizações.

Com estes números é possível termos uma perceção muito clara da importância que as PME têm na criação de riqueza e de emprego e, consequentemente, o papel crucial que desenvolvem na revitalização da economia nacional.

O que falta melhorar para que as PME nacionais sejam mais competitivas?

A competitividade das PME (ou a falta dela) resulta por vezes – atrever-me-ia a dizer em grande parte dos casos – de um conjunto de fatores de ordem nacional e internacional que têm sobretudo a ver com a envolvente em que a atividade empresarial se move.

Entre os fatores de ordem nacional, que são aqueles que dependem maioritariamente da nossa atuação, a AEP tem vindo a sinalizar um conjunto de aspetos que vale a pena reafirmar: o facto de as empresas portuguesas, face às suas congéneres europeias, suportarem custos de energia mais elevados, custos de financiamento mais elevados, maiores custos de contexto resultantes das interações com as entidades públicas, uma carga fiscal elevada e disporem de uma força de trabalho com as mais baixas qualificações.

A tudo isto podemos e devemos juntar a necessidade de Portugal dispor de infraestruturas adequadas de suporte à conectividade internacional das nossas organizações, como é o caso da ferrovia para o transporte de mercadorias. Conforme já tivemos oportunidade de sublinhar, o investimento para os corredores internacionais ferroviários Aveiro-Salamanca e Sines-Caia, tal como está delineado no Plano Nacional de Investimentos (PNI 2030), não serve o interesse do país e das empresas. A competitividade e atratividade destas linhas requerem que o traçado seja o mais curto possível, integre plataformas logísticas de grande capacidade e garanta a total interoperabilidade das linhas (bitola europeia), bem como outros requisitos de operação e competitividade, sob pena de o país se tornar “numa ilha ferroviária”.

“Os ganhos de escala são fundamentais para que as PME possam vencer com sucesso um mercado global e fortemente concorrencial”

E as políticas oficiais de apoio e incentivo às PME são suficientes para dinamizar este setor tão importante da economia? Estão a ser cumpridas?

Os sistemas de incentivo às empresas do Portugal 2020, quer na modalidade de projetos individuais, quer de projetos conjuntos (neste último caso com o envolvimento das associações empresariais), constituem uma importante fonte de financiamento do investimento das PME. Creio que os apoios têm vindo a ser canalizados para áreas que também consideramos estratégicas para a economia, como é o caso da inovação, da internacionalização e da qualificação das PME, no sentido do reforço das suas capacidades de organização e de gestão. É também de reconhecer o esforço feito ao nível das políticas públicas na área da capitalização das empresas, nomeadamente com o Programa Capitalizar, mas que é necessário reforçar.

Tudo isto tem sido muito positivo para as empresas e para a revitalização da economia nacional.

“O crescimento económico sustentável do país terá de passar pelo aumento da sua intensidade exportadora”

Mas...

Porém, entendo que há outros aspetos que não estão ainda suficientemente cobertos pelas políticas públicas de apoio e que, face à sua elevada pertinência, devem merecer uma atenção redobrada e uma ação imediata. Refiro-me em concreto aos apoios à cooperação empresarial, quer entre empresas, quer entre estas e os diversos stakeholders. Não podemos esquecer que a dimensão reduzida das organizações é apontada como um fator limitativo ao aproveitamento de economias de escala, ao investimento, à adoção de novas tecnologias e, consequentemente, à obtenção de ganhos de produtividade e competitividade.

Se queremos continuar a aumentar de forma ainda mais significativa a nossa intensidade exportadora, os ganhos de escala são fundamentais para que as PME possam vencer com sucesso um mercado global e fortemente concorrencial.

Devemos também olhar com muita atenção para o facto de a colaboração nas atividades de investigação, quer entre empresas, quer entre estas e as universidades ou outras instituições de investigação, ser relativamente baixa, sobretudo ao nível das empresas de menor dimensão.

Atendendo a que a inovação tem um impacto muito relevante em matéria de produtividade, é importante fomentar políticas públicas que promovam a estreita cooperação entre investigadores e empresários. Embora pudéssemos pensar que esta menor interação tem a ver com o perfil deste segmento empresarial, os dados existentes permitem rapidamente desmentir tal teoria. Na verdade, em Portugal a proporção de pequenas empresas que estão envolvidas em projetos de cooperação com universidades ou instituições de investigação é menos de metade da média europeia. Portanto, para o mesmo segmento empresarial estamos muito aquém dessa média europeia.

“É importante fomentar políticas públicas que promovam a estreita cooperação entre investigadores e empresários”

As PME portuguesas estão suficientemente evoluídas e preparadas para fazer negócios com o exterior?

Há um conjunto de aspetos da envolvente à atividade empresarial que têm de ser melhorados. Naturalmente que as próprias empresas possuem internamente características que podem limitar mais ou menos o seu desempenho e que têm a ver com a sua estrutura financeira ou a capacidade e qualidade das suas práticas de gestão, só para citar dois exemplos.

Em matéria de fazer negócios com o exterior, sabemos que o nosso país tem um mercado interno pequeno, pelo que há uma necessidade de nos voltarmos para o exterior. É o que tem vindo a acontecer, como mostra o crescente grau de abertura da economia portuguesa.

Também defendo que o crescimento económico sustentável do país terá de passar pelo aumento da sua intensidade exportadora, pelo que é necessário alargar a base exportadora, estimulando as empresas portuguesas que já exportam a exportar mais e as empresas que não exportam a iniciar a sua atividade exportadora.

Embora as firmas de reduzida dimensão constituam a esmagadora maioria do número total de empresas exportadoras (62%), este segmento representa apenas cerca de 9% do valor global das exportações de bens. É sobretudo o segmento das grandes empresas (em número muito reduzido no total de empresas exportadoras, apenas 1%) o principal responsável pelo valor global exportado (45%).

E portanto mais uma vez importa incentivar o crescimento dimensional das organizações, quer pela via orgânica, quer pela cooperação – com o apoio das associações empresariais –, promovendo escala suficiente para uma maior inserção no comércio mundial.

Atendendo a que 70% das empresas exportadoras exportam para apenas um mercado, o tema da cooperação empresarial coloca-se com especial acuidade no âmbito do processo de diversificação dos mercados de destino das exportações portuguesas, que normalmente são mais longínquos e com diferentes especificidades, e necessidade de um maior e melhor conhecimento (face aos mercados tradicionais) de competências e capacidades que, por si só, são mais fáceis de encontrar em empresas de menor dimensão.