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especial PME | entrevista

“O luxo do século XXI está nos territórios do Centro de Portugal”

pedro machado, presidente do turismo centro de portugal

É a maior e a mais diversa região do país, mas ao longo dos últimos anos soube tirar partido das assimetrias e dos constrangimentos para os transformar em oportunidades de crescimento. A prova do sucesso está nos números que atestam a procura por parte dos visitantes e também nos prémios, nacionais e internacionais, que continua a arrecadar. Fica a faltar o aeroporto de proximidade, com a hipótese de Monte Real ser realmente uma alternativa.



Quando assumiu a presidência da Região de Turismo do Centro, Pedro Machado deparou-se com um conjunto de desafios que ao longo dos anos têm sido ultrapassados com sucesso. A marca Centro de Portugal era exígua, ou quase inexistente, e foi preciso conquistar a confiança e mobilizar todos os agentes económicos locais para dar os primeiros passos. “Era preciso posicionar-nos no mercado interno e, a partir daqui, percebermos as oportunidades no domínio da internacionalização”, recorda. Reconhece que não foi fácil, mas que o caminho percorrido alterou por completo o panorama da região. Os desafios continuam, com a meta da qualificação dos serviços e da capacitação dos agentes económicos ainda em execução, mas o futuro promete ser risonho.

Nos últimos anos, o Turismo do Centro tem ganho notoriedade. A que se deve a mudança?

Deve-se à estratégia de comunicação que a marca assumiu desde 2014, sob o lema “Um dia é bom, dois é ótimo, três nunca é demais”, e sobretudo à reestruturação do layout dos produtos turísticos e da sua comunicação. Deve-se também a um trabalho profundo com todos os stakeholders do território, privados e públicos, e em particular com municípios e comunidades intermunicipais.

A criação da marca Centro de Portugal foi o primeiro passo?

Foi a consolidação do trabalho de um território e de um conjunto de produtos turísticos já existentes, mas que nunca tinham sido trabalhados do ponto de vista da sua comunicação. Demos-lhe uma roupagem, um processo de comunicação profissional e envolvemos os agentes económicos na promoção e comunicação da marca.

Quais os projetos com maior impacto nos resultados?

Destaco o turismo religioso, que surge em 2013. Quando pensámos em Fátima e no turismo católico, no turismo judaico ou no turismo associado ao Caminho Português de Santiago, percebemos que havia uma nuance que não estava a ser aproveitada na estruturação de produtos turísticos. Depois, o turismo dos desportos de deslize, o surf e em particular a onda da Nazaré e os supertubos de Peniche, e o turismo médico, que começa a ter os seus primeiros episódios de crescimento em unidades como Coimbra, Beira Interior ou Região de Aveiro.

Foi difícil criar uma oferta integrada?

Esse desafio foi-nos colocado desde o início. Em primeiro lugar, percebemos que a heterogeneidade de uma região com 100 municípios, que abrange 31% do território nacional e 22% da população portuguesa, necessitaria de respostas integradas, que fizessem da dispersão e dos constrangimentos provocados pelas assimetrias regionais uma oportunidade para o crescimento. Em segundo lugar, apostámos num veículo de comunicação – a marca Centro de Portugal –, que agrega todos os interesses e os aspetos distintivos da região, o que nos permitiu conquistar hoje vários prémios. Finalmente, percebemos que atualmente a competitividade não é compatível com a fragmentação, mas pressupõe trabalhos de base na estruturação dos produtos turísticos que permitam um cross selling entre as várias sub-regiões, para que a diferenciação entre elas possa contribuir de forma positiva para o todo da oferta.

Qual o perfil do visitante da região?

Somos vocacionados para receber famílias ou jovens quadros. Sabemos isso pela nossa oferta, muito alavancada no turismo ativo e desportivo. Mas sabemos também que dispomos de uma predisposição para o turismo patrimonial e cultural, que atrai muitos seniores de várias partes do mundo. Quando falamos na predominância do turismo religioso, somos muito competitivos em mercados como o Brasil, Estados Unidos, Canadá ou Israel, que são dominantes nesta vertente. Percebemos também que Portugal tem uma oportunidade na sua relação com a diáspora que queremos aproveitar: mais de 300 milhões de pessoas que falam português em todo o mundo podem intensificar a sua ligação àquilo que é o território onde está sepultado o primeiro rei de Portugal ou onde nasceu a língua portuguesa.

Quais os principais mercados emissores?

Nesta década, passámos de 70% de turistas nacionais e 30% de estrangeiros para 55% de nacionais e 45% de estrangeiros. Há uma evolução muito forte no crescimento dos mercados externos, como França, Espanha, Itália, EUA, Canadá, Brasil e Alemanha. Estes novos mercados trazem expectativas e oportunidades para a afirmação de territórios de baixa densidade. O claim que lançámos, “O Luxo do Século XXI está no Interior”, destina-se precisamente aos targets com poder de compra elevado, que procuram o silêncio, a segurança, o tempo para usufruir.

Que impacto tem a incerteza sobre a construção do novo aeroporto?

Um aeroporto é uma porta privilegiada de acesso de turistas em qualquer destino turístico. Percebemos a importância com que o país discute a solução Portela+1 – da mesma forma que temos vindo a reafirmar a importância do aeroporto de Monte Real. Acreditamos que Monte Real, não sendo alternativa à Portela+1, deveria ser uma solução imediata, pelo menor investimento que exige, pela sua posição geográfica, mas também pela capacidade que tem de gerar fluxos, sobretudo ao nível do turismo cultural e do turismo religioso. Será uma perda o país não aproveitar a oportunidade quando continua a discutir estudos de impacto ambiental na questão do Montijo, que no futuro poderá ser vítima do crescimento do nível do mar.


A Melhor Região de Turismo do País

Pela segunda vez, a Turismo do Centro de Portugal (TCP) foi reconhecida como a melhor região de turismo do país, categoria para a qual estava nomeada no âmbito dos prémios Publituris Portugal Travel Awards. A TCP concorria com as restantes regiões de turismo, tendo repetido o feito já conseguido em 2015. A cerimónia de entrega de prémios decorreu a 17 de setembro, em Cascais. Estes prémios, diz Pedro Machado, “são um estímulo, porque permitem ganhar confiança e mobilizar os agentes e possibilitam que a comunidade nacional e internacional preste maior atenção ao trabalho que temos vindo a desenvolver”.

É possível combater a sazonalidade e o despovoamento do interior?

Sim, através do aumento da nossa relação com mercados emissores de proximidade, como o espanhol; da diferenciação e estruturação de novos produtos turísticos, como o turismo ativo e de Natureza ou o turismo desportivo; do reforço de produtos como a Nacional 2, que angaria cada vez mais adeptos nacionais e internacionais; da realização de eventos que possam catapultar pessoas para esses territórios, ou do desenvolvimento de redes colaborativas, como as Aldeias Históricas de Portugal, as Aldeias do Xisto ou as Aldeias de Montanha.

Quais os principais fatores de atratividade?

Temos produtos diferenciadores pela sua singularidade, como o turismo religioso, as ondas da Nazaré ou Peniche ou a serra da Estrela. Depois, a rica e variada gastronomia, com produtos de notoriedade nacional e internacional, casos do Queijo Serra da Estrela, dos vinhos, da doçaria, mas também de espécies autóctones, como a vitela de Lafões ou o leitão da Bairrada, não esquecendo os Lugares do Património Mundial – Coimbra, Tomar, Batalha ou Alcobaça -, toda a rede dos castelos de fronteira ou das invasões militares, de Almeida às Linhas de Torres, e que fazem do Centro de Portugal um destino singular.

Como está a correr 2019?

Os números de 2019 são muito encorajadores. Entre janeiro e julho, as dormidas cresceram 5,1% em relação ao mesmo período de 2018, acima da média nacional, e os proveitos das unidades turísticas subiram 7,7%.

E as prioridades para 2020?

Às portas de um novo quadro comunitário, queremos colocar o turismo na agenda nacional e regional da programação comunitária do ponto de vista dos fundos estruturais, mas também das prioridades do investimento. Outra prioridade será tratar questões como a mobilidade e acessibilidade, quer aeroportuária quer viária ou ferroviária, que nos permite ter ligações cada vez mais fortes com o nosso principal mercado, que é o espanhol. Veja-se o caso do IC31, que liga Cáceres a Castelo Branco e Lisboa. Depois, uma aposta crescente na mobilidade suave, em particular num conjunto de projetos associados às nossas CIM, e não só. Refiro-me a novas ecovias e ecopistas, circuitos pedestres, tudo aquilo que reforça o posicionamento do Centro de Portugal em matéria de turismo ativo e ambiental.

Tem alguma mensagem para quem quer investir no Centro de Portugal?

Queremos criar condições para atrair investimento, porque acreditamos que estes são territórios de futuro e com futuro. Ao contrário dos espaços mais massificados, o Centro de Portugal tem uma margem enorme de crescimento. Queremos e podemos influenciar no sentido de os próximos quadros de programação beneficiarem aqueles que se queiram arrojar a investir nestes territórios, criando condições do ponto de vista das políticas públicas que possam ser benéficas para quem investe e desenvolve os seus negócios na região. Queremos captar novas empresas associadas a novos modelos de negócio, no âmbito das tecnologias, das start-ups, mas também dos nómadas digitais, e criar um ecossistema que facilite a captação do investimento e o desenvolvimento de novos negócios.