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Resiliência e inovação marcam atividade imobiliária em ano de crise

Depois de nos últimos anos ter vivido uma verdadeira pujança económica, o sector imobiliário vive agora um momento de incertezas na sequência da crise provocada pela pandemia. Investimentos adiados, construções paradas, turismo em baixa são algumas das contingências que o sector atravessa e desafios que tem de ultrapassar. Mas o otimismo prevalece





À semelhança de muitos outros sectores económicos, o imobiliário também não escapou aos efeitos da crise que assolou a economia nacional desde março deste ano, ainda que muitos dos profissionais destaquem a capacidade de reação do sector às contrariedades do momento. A começar pela criação de novas formas de chegar aos clientes, recorrendo às potencialidades que a tecnologia tem para oferecer. Aliás, a aposta na digitalização e na inovação marcaram a área da mediação imobiliária, abrindo espaço para o aparecimento de novos projetos exclusivamente online. Ainda assim, e depois de no ano passado o número de transações de alojamentos familiares ter registado uma taxa de crescimento na ordem dos 2%, percentagem que era expectável que continuasse a crescer este ano, os dados não o confirmam. No primeiro trimestre de 2020, os dados referentes ao número de transações de imóveis habitacionais (fornecidos pela Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal – APEMIP) apontam para a venda de 43.532 casas, o que representou uma quebra de 11,6% face ao trimestre anterior e de 0,7% face ao primeiro trimestre de 2019.

Indicadores revelam retração

Em abril, em pleno auge da crise, um inquérito realizado junto das empresas de mediação imobiliária a operar em Portugal pela APEMIP aferiu que 50% das inquiridas suspenderam totalmente a sua atividade, contra 45,8% em que a suspensão foi parcial. Por outro lado, 95,3% indicaram uma quebra do volume de negócios e 92,5% uma quebra da procura. A par disso, 62,7% das empresas revelaram desistências dos clientes de negócios que estavam em curso, 19,8% dos quais chegaram mesmo a desistir da compra após celebração do contrato-promessa de compra e venda. Nesta altura, metade das empresas inquiridas (no total de quatro mil empresas de mediação licenciadas a operar em Portugal) afirmou ter recorrido a algumas das medidas de apoio excecionais previstas pelo Estado.

Os dados são relativos a abril, mas reveladores da retração da atividade, apesar de 59% dos profissionais acreditarem que os preços do imobiliário se irão manter nos próximos meses, de acordo com um inquérito realizado em julho pelo Imovirtual.

Pandemia: ameaça ou oportunidade

O surto pandémico, bem como a instituição do estado de emergência decretado em março, veio impossibilitar, por exemplo, as visitas presenciais a imóveis, a realização de escrituras ou mesmo a continuidade dos projetos de construção. Mas como em tantos outros segmentos económicos, também neste as empresas tiveram de se reinventar. A tecnologia foi um aliado fulcral neste processo, já que foram muitas as empresas ditas tradicionais a enveredarem pelo digital para promover os seus imóveis, as vendas e agilizar os processos de trabalho. Sem esquecer o sistema de teletrabalho a que muitas também aderiram.

Assim, implementaram-se novas formas de comunicação e de chegar aos clientes, com recurso aos meios digitais, fizeram-se visitas online personalizadas aos imóveis, reuniões através de plataformas, num esforço para manter a proximidade com os clientes e assegurar os negócios. Exemplos não faltam, como o caso da Engel & Völkers, que através de uma parceria com a Matterport, a plataforma de dados 3D, teve a possibilidade de apresentar as suas propriedades aos clientes através de visitas virtuais em 3D. Esta tecnologia é capaz de produzir réplicas exatas de propriedades, o que permite que os potenciais compradores tenham acesso a visitas virtuais completas a qualquer hora do dia.

Procura de imóveis com novos padrões

Depois de meses confinados em casa em teletrabalho, os portugueses começaram a olhar para as suas casas com outros olhos. No novo cenário, a habitação passou a também a ser para muitos o escritório, a escolas dos filhos, o ginásio… Em suma, assumiu o papel central de quem esteve meses confinado. Uma alteração que também se prevê extensível ao sector empresarial. Segundo um estudo desenvolvido pela MGVM a nível europeu, as novas políticas de teletrabalho implementadas pelas empresas irão gerar menos procura por espaços para escritórios ou uma procura por escritórios mais pequenos, uma vez que os trabalhadores estão em home office.

Turismo desacelera, imobiliário sofre

Se há cerca de um ano o presidente da APEMIP afirmava [numa entrevista à EXAME] que o turismo e o imobiliário eram o petróleo e o ouro do nosso país, em 2020 estes dois sectores económicos, o primeiro forte dinamizador do segundo, vivem um período de forte desaceleração. A quebra do turismo é uma realidade com impacto no sector imobiliário: menos turistas, menos procura por casas, menos investimento, menos vendas e também menos construção. Um ciclo que se reflete no desinvestimento estrangeiro no país. A recuperação gradual do turismo, caso as condições sanitárias do país o permitam e a confiança para viajar seja recuperada, pode alavancar o regresso dos investidores internacionais ao mercado imobiliário nacional. Recorde-se que em 2018 os dados do INE apontavam para que os não residentes representavam 13% do volume total de transações, o equivalente a 3,4 mil milhões de euros, num mercado total de 26,1 mil milhões de euros.

Quantos aos estrangeiros que mais compram, os franceses e os ingleses estão no topo da lista e representam 19,7% e 16.9%, respetivamente, do total de transações de não residentes. Seguem-se o Brasil, com 8,3%, a China, com 5,1%, e a Alemanha, com 4,9%.

CBRE revela cenários no setor imobiliário

Perante as inúmeras incógnitas que a crise está a levantar são muitas as questões que se colocam quanto ao futuro: Como serão os locais de trabalho em 2030, os investimentos, a vida? O Global Outlook 2030, um estudo desenvolvido pela CBRE (consultora especializada em soluções imobiliárias) revela alguns cenários, assim como sobre um conjunto que aspetos que vão mudar na vida das pessoas, nos locais de trabalho ou nos investimentos. O relatório da CBRE prevê, por exemplo, que, até 2030, 90% dos ativos imobiliários comerciais serão avaliados usando AVMs, e que a big data e a Inteligência Artificial irão ajudar a criar novas métricas que permitem ver o valor da propriedade numa nova perspetiva. Por outro lado, evidencia também que o mundo do trabalho e os locais de trabalho como os conhecemos hoje vão ser diferentes nos próximos anos. Os primeiros passos já começaram a ser dados com as pessoas a trabalharem a partir de qualquer lugar. A disrupção da tecnologia acontecerá em toda a linha na próxima década. As formas de inteligência artificial para medir o valor tornarão mais fácil investir com sucesso em imóveis. Paralelamente, o Global Outlook mostra também que até 2030, a Ásia atingirá os 4,75 mil milhões de pessoas e uma economia em expansão que criará oportunidades sem precedentes. Perante esta previsão, esta área geográfica deverá registar uma taxa de urbanização rápida e elevada uma vez que segundo o CBRE Research e a United Nations haverá 414 milhões de pessoas a migrarem para cidades até 2030.