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e eficiência energética | Entrevista

“Um dos desafios do sector imobiliário nacional é manter-se unido”

Paulo Caiado, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP)

Na liderança da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) há poucos meses, Paulo Caiado passa em revista o desempenho da atividade imobiliária no último ano. Fala dos desafios, das dificuldades impostas pela pandemia, das proptechs, de eficiência energética e da obrigatória profissionalização da atividade





Os dados de investimento do sector imobiliário, no primeiro semestre deste ano, revelaram uma queda significativa. Além do impacto da pandemia, o que falhou na atividade?

A queda a que se refere é relativa ao investimento em ativos imobiliários como escritórios, lojas e centros comerciais – esses, sim, registaram uma tendência de descida no primeiro semestre deste ano. Contudo, acredito que não falhou nada no mercado imobiliário residencial, até porque tem manifestado uma tendência de subida no primeiro semestre de 2021.

Quais têm sido, globalmente, os principais problemas no sector imobiliário?

A ausência de estabilidade legislativa e a permanente alteração e elaboração de legislação associada ao imobiliário — do ponto de vista fiscal e outros domínios — afasta investidores, em geral, que procuram estabilidade e que querem saber com o que podem contar.

Como espera/deseja que esta fase menos positiva venha a ser ultrapassada? O que deve ser feito em prol do sector, em sua opinião?

A pandemia teve imensas consequências. Esta fase foi seguramente menos positiva pelo impacto que teve nas nossas vidas. Relativamente ao mercado imobiliário, este mostrou ser extremamente resistente, porque não evidenciou nenhuma quebra de valor significativa. Simultaneamente, também levou a que a generalidade das pessoas tivesse em atenção o que é realmente importante na sua casa. Além disso, levou-as a considerar se a casa em que vivem é a casa em que querem viver o resto das suas vidas.

Que valores de investimento está o mercado a movimentar atualmente? Continuam a ter impacto na economia nacional?

No primeiro trimestre de 2021 foram transacionados em Portugal mais de 6 mil milhões de euros, dos quais mais de 5 mil milhões respeitaram a alojamentos existentes e mais de mil milhões a alojamentos novos. Obviamente, é de total importância e significado o impacto significativo deste volume financeiro na economia nacional.

Como analisa o “fenómeno” do digital no sector imobiliário, concretamente o aparecimento, nos últimos anos, das chamadas proptechs?

O surgimento das proptechs é normal na sequência da implementação de procedimentos digitais e da proliferação de negócios ligados ao digital. As proptechs representam um grande desafio para a mediação imobiliária, que tem de ter a capacidade de aliar permanentemente as mais inovadoras soluções tecnológicas com o fator humano. Não julgo que seja bom e sustentável para o sector — assim como para o país — modelos de negócio que substituam as pessoas.

Imobiliário e sustentabilidade, como vê esta relação no futuro? A procura por casas sustentáveis já é uma realidade no mercado português?

Acredito que atualmente não tem grande expressão. No entanto, previsível e felizmente vai ter. Os jovens que hoje não gostam de beber cerveja em copos de plástico, amanhã, quando forem compradores de casa, vão querer que esta seja eficiente do ponto de vista energético. Portanto, a eficiência energética dos imóveis, no futuro que se avizinha, vai passar a ser uma das suas componentes de valor, e não apenas um instrumento administrativo.

A relação entre turismo e imobiliário tem pernas para andar?

Os negócios turísticos que recorrem ao imobiliário são isso mesmo: negócios. Assim como um restaurante ou um cabeleireiro carece do apoio do suporte imobiliário, também os modelos de negócio direcionados para alojar turistas carecem de um suporte imobiliário. Nessa perspetiva, são o nicho gerador de novas ofertas e novas oportunidades de negócio. Aquilo que é necessário é separar o sucesso ou insucesso desse ou outros negócios da componente de valor dos imóveis onde determinadas atividades comerciais ocorrem.

Imobiliário comercial ou residencial? Em que sector prevê maior dinamismo nos próximos anos, tendo em conta as mudanças do mercado laboral, como a questão do teletrabalho, por exemplo?

Ambos serão alvo – e, na verdade, já o estão a ser – de reinvenção. Nenhum sector deixará de existir. Ambos terão o seu espaço, que previsivelmente terá de ser renovado, porque as necessidades das pessoas e das empresas agora são diferentes. A pandemia veio mostrar que as pessoas não têm necessidade de escritórios tão grandes. Por outro lado, há empresas que vão pensar que é necessário escritórios que permitam maior distanciamento. Além disso, vamos também assistir a uma proliferação de soluções de novos modelos, mas preservando o significativo espaço setorial, quer do comercial, quer do residencial, que não irá desaparecer.

“As proptechs representam um grande desafio para a mediação imobiliária. Não julgo que seja bom e sustentável para o sector modelos de negócio que substituam as pessoas”

A médio prazo, e globalmente, que desafios prevê para o imobiliário nacional?

Um dos desafios do sector imobiliário nacional é manter-se unido. Cada vez mais, é preciso que exista mais cooperação e maior participação na procura de soluções para que o próprio sector continue a manter a credibilidade que conseguiu até hoje. Além disso, a obrigatória profissionalização do sector é essencial, bem como o facto de não dar espaço a modelos de negócio robóticos.

Os números do 1.º trimestre de 2021

De acordo com os dados de mercado compilados pela APEM IP, no primeiro trimestre de 2021 foram transacionados no mercado português 43.757 alojamentos familiares, número que representa um crescimento de 0,5% face ao período homólogo de 2020. Comparativamente, ao último trimestre do ano passado (de outubro a dezembro) o número de vendas de habitações teve uma diminuição de 12%. Ainda no quarto trimestre de 2020 foram transacionados 49 mil 734 alojamentos.

Segundo a APEM IP, neste período 37.227 respeitaram a alojamentos existentes, um aumento de 0,6% face ao primeiro trimestre de 2020. Já nos alojamentos novos verificou-se um crescimento de 0,3% face a igual período do ano anterior totalizando 6.530 habitações. Numa análise trimestral, os alojamentos existentes registaram uma variação negativa de 12,1% e os alojamentos novos uma redução de 11,3%.

De janeiro a março de 2021 o valor das vendas ascendeu a 6,9 mil milhões de euros, um crescimento de 2,5% face a idêntico período de 2020 (6,7 mil milhões de euros, no 1.º trimestre 2020). Deste valor total, cerca de 5,6 mil milhões de euros correspondem a alojamentos existentes e 1,2 mil milhões de euros a transações de alojamentos novos. Em termos homólogos, representou um aumento de 4,1%, no caso dos alojamentos existentes, enquanto os alojamentos novos tiveram uma quebra de 3,7%.

No global, os valores das transações dos alojamentos familiares registaram um decréscimo de 8,1%.

Em termos regionais, no 1ºtrimestre de 2020, foram vendidos 14.713 alojamentos familiares na Área Metropolitana de Lisboa e 12.713 na Região Norte. A Área Metropolitana do Porto contou com 7.291 transações.

O valor das habitações transacionadas na Área Metropolitana de Lisboa ascendeu aos 3,1 mil milhões de euros, representando perto de 46% do valor total. A região do Norte registou 1,7 mil milhões de euros. Já na Área Metropolitana do Porto, o valor das transações fixou-se nos 1,1 mil milhões.