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especial gestão de pessoas | entrevista

É importante colocar as pessoas no centro da inovação e da tecnologia

Mário Ceitil, presidente da Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas (APG)

Com uma visão transversal a várias áreas, Mário Ceitil, presidente da Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas (APG), analisa o que está a mudar no setor da gestão de pessoas e avança tendências para esta atividade.



Quais as principais mudanças que identifica neste setor de atividade (gestão de pessoas, lideranças, etc.) no último ano?

Neste último ano assistimos a um incremento significativo nas atividades ligadas à gestão das pessoas, com um elevado número de eventos (conferências, congressos, debates, webinars, prémios, etc.) sobre os temas da gestão das pessoas e das lideranças. Julgo que esse incremento se deve, por um lado, ao reconhecimento crescente que a gestão das pessoas tem merecido enquanto grande função empresarial e, por outro lado, ao facto de os mais recentes desenvolvimentos da Indústria 4.0 e, sobretudo, dos movimentos relacionados com a Sociedade 5.0 terem vindo progressivamente a demonstrar a definitiva importância de colocar as pessoas no centro da inovação e da tecnologia.

Que sugestões deixa às empresas e aos colaboradores para que a relação entre estes dois elos da cadeia se faça de forma correta, saudável e com bons resultados finais?

Relativamente às empresas, é fundamental que se consigam dinamizar plataformas de aprendizagem que permitam uma rápida requalificação das pessoas em áreas de competências hard, designadamente no que se refere à literacia digital, e programas integrados e de continuidade em relação às competências soft de maior valor acrescentado e de maior complexidade cognitiva, como a flexibilidade cognitiva, a resolução de problemas complexos, pensamento crítico e inteligência emocional. Por outro lado, é fundamental que as empresas dinamizem igualmente programas e ações orientadas para promover ambientes favoráveis à “felicidade organizacional”, que se vem tornando progressivamente um dos imperativos do nosso tempo.

Relativamente às lideranças, há igualmente um grande desafio no sentido de serem desenhados programas de liderança orientados para novos paradigmas, designadamente no que se refere à liderança de equipas de elevada autonomia e “desterritorializadas” em ambientes cada vez mais virtuais, onde o grande desafio é que cada pessoa seja capaz de se liderar a si própria, criando sinergias em plataformas colaborativas de ação.

Finalmente, ao nível das pessoas, é essencial que cada colaborar crie e cultive um mindset verdadeiramente autoempreendedor, assumindo proativamente a responsabilidade pela sua própria empregabilidade.

O grande desafio dos novos tempos reside nas reconceção do próprio conceito de trabalho, que não pode jamais ser considerado apenas como um meio para “pagar as contas”, mas como uma plataforma essencial de construção da identidade e da cidadania de cada pessoa.

Como antevê o futuro próximo deste mercado?

Em linha com o movimento Sociedade 5.0, a tendência será cada vez mais consubstanciada na perspetiva de humanity works, ou seja, a prevalência das características e qualidades mais “autênticas e nobres” do ser humano e a colocação da pessoa no centro da inovação e da tecnologia.

Neste contexto, deixará obviamente de fazer sentido continuarmos a falar em “recursos humanos” ou nessa versão supostamente mais moderna de “capital humano”, que é uma variante neoclássica da velha ideia de considerar as pessoas como recursos. Faz também sentido, nesta linha, que todas os recursos tecnológicos sejam geridos à imagem e semelhança das pessoas, e não gerir as pessoas à imagem e semelhança das máquinas. Em suma, serem as pessoas a dominar a tecnologia e não serem dominadas por ela.