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VINHOS 2019 OS MELHORES DO ANO

perguntas & respostas

Vamos falar de vinhos?

As páginas que se seguem podem não ser tudo o que sempre quis saber sobre vinhos – apenas porque, em vez de dez questões, podiam ser uma centena. Esclarecer algumas dúvidas e desfazer outros tantos equívocos é o que aqui se propõe fazer o crítico gastronómico da VISÃO

TEXTO Manuel Gonçalves da Silva



Há vinhos leves que vão bem com um bom peixe grelhado, e brancos com algum corpo que se harmonizam à maravilha com carne. Fundamental é o equilíbrio: pratos delicados pedem vinhos suaves; pratos com sabores fortes exigem vinhos personalizados

1ANTES DE BEBER O VINHO, DEVO CHEIRÁ-LO?

É claro que deve, porque o aroma diz muito sobre a origem do vinho: se é jovem tem, sobretudo, o aroma das uvas, naturalmente transformado e intensificado pela fermentação; se passa por madeira de carvalho, esta dá-lhe o aroma a esta madeira, que até pode ocultar o das uvas; se envelhece na garrafa, formam-se novas substâncias aromáticas que originam o bouquet. A maior parte daquilo que chamamos sabor é, na verdade, aroma, razão pela qual cheiramos as coisas antes de levá-las à boca e só depois as saboreamos (é por isso que não conseguimos saborear nada quando uma gripe nos entope o nariz).

Ah, o olfato também deteta os aromas maus, que são defeitos do vinho, como o “cheiro a rolha”, evitando que seja levado à boca e ofenda o paladar. Por tudo isto, e muito mais, faça bom uso das narinas, cheire o vinho e surpreenda-se com os seus aromas.



2 OS AROMAS (A FLORES, FRUTOS, ESPECIARIAS, ERVA, BOSQUE, CAÇA, COURO, QUÍMICOS E TANTOS OUTROS) ATRIBUÍDOS AOS VINHOS EXISTEM MESMO OU SÃO IMAGINADOS?

Os vinhos são feitos de uvas, nada mais. O que nele encontramos são complexos aromáticos que resultam da casta, do modo como o vinho foi feito, da sua idade, do seu tipo de envelhecimento. E estes estimulam o núcleo olfativo, situado no cimo das fossas nasais, onde chegam através do nariz e da boca (via retronasal) e são comunicados ao cérebro, que os identifica através do seu registo de sensações e aromas, ou memória olfativa, verdadeiro “banco de dados”, na dimensão correspondente à experiência de vida de cada pessoa.

Descobrem-se, assim, as características particulares de cada vinho, entre uma imensa gama de cheiros que podem ser a flores, como a violeta e a flor de laranjeira (descritores sensoriais típicos das castas nacionais Touriga-Nacional e Alvarinho, respetivamente); a fruta, como a amora e o limão; a frutos secos, como a avelã e a uva passa; a especiarias, como a baunilha e a pimenta; a vegetais, como o feno e a relva; a animais, como a caça e o cabedal; a minerais, como o terroso e o calcário; a queimados, como o alcatrão e o fumado, e muitos outros. Identificá-los é um exercício de memória aliciante, sendo certo de que os melhores vinhos têm perfumes mais ricos e os mais vulgares são aromaticamente pobres.



3 OS VINHOS FEITOS A PARTIR DE UMA SÓ VARIEDADE DE UVA SÃO MELHORES DO QUE OS QUE RESULTAM DE UM LOTE DE VÁRIAS CASTAS?

A tradição do “velho mundo” é fazer vinhos através da combinação de várias castas, exceto na Borgonha, em que os brancos são de Chardonnay e os tintos de Pinot Noir. Este modelo foi copiado pelo “novo mundo”, onde o nome da casta passou a figurar no rótulo e o conceito de vinho varietal se impôs. Tem a virtude de apresentar a casta na sua plenitude.

Mas não há castas perfeitas em todas as suas componentes, e o vinho de lote permite fazer compensações e retirar de cada um o melhor que tem para dar. Escolha cada qual à medida do seu gosto. Uma coisa é certa: sem boas castas não se fazem grandes vinhos, estejam elas sós ou acompanhadas.




Não há castas perfeitas em todas as suas componentes, e o vinho de lote permite fazer compensações e retirar de cada uma o melhor que tem para dar. Escolha cada qual à maneira do seu gosto. Uma coisa é certa: sem boas castas não se fazem grandes vinhos



4 É VERDADE QUE OS VINHOS PRECISAM DE RESPIRAR?

Muitas vezes, ao abrir uma garrafa, vem um cheiro desagradável que, passado algum tempo, se dissipa. Outras vezes, nada acontece e os aromas parecem indetetáveis.

É por isso que se rodam e/ou se agitam os copos, a fim de arejar o vinho e de facilitar a libertação de aromas mais pesados e mais ricos que são os que precisam de maior contacto com o oxigénio. Arejar os vinhos é fundamental, porque eles precisam mesmo de respirar. O nariz, como se sabe, só deteta substâncias voláteis.



5 SE NÃO BEBER DE UMA SÓ VEZ O VINHO DE UMA GARRAFA, POSSO GUARDÁ-LA SEM QUE ESTE SE ESTRAGUE?

Guardá-la, pode e deve, sobretudo se o vinho for bom, mas não por muito tempo e nem esteja à espera de que se mantenha inalterado. O problema está no contacto do vinho com o ar e na quase inevitável oxidação que ocorre depressa e que retira qualidades ao vinho.

O que é recomendável é que, da próxima vez, tenha à mão um dos vários acessórios, disponíveis nas lojas da especialidade, com bomba e rolha para extrair o ar e tapar a garrafa de forma eficaz. Esta solução é particularmente vantajosa com o vinho do Porto, que tende a ficar na garrafa durante mais tempo, por se beber menos de cada vez. Mesmo perdendo qualidades, sobretudo aromáticas, o vinho resiste e dá-nos tempo para o consumir.


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6 COM OS ANOS, OS VINHOS FICAM MELHORES?

Melhores ou... piores, depende dos vinhos. Atualmente, os vinhos são feitos, maioritariamente, para serem consumidos jovens – é quando devem ser bebidos. Já os que prometem vir a ser grandes vinhos quando forem velhos não deixarão de agradar enquanto jovens (a menos que estejam a atravessar alguma fase conturbada do processo de amadurecimento, como é próprio da juventude). Estes, normalmente, são vinhos duros e ásperos que precisam mesmo de envelhecer. Deixem que o tempo lhes suavize a textura, expanda os aromas e sabores, componha a harmonia, porque estes, sim, ficam melhores com os anos.



7 É PRECISO DECANTAR SEMPRE O VINHO?

A decantação é necessária para os vinhos com depósito no fundo da garrafa, evitando que não turvem, e útil para outros, como os tintos encorpados e ainda em evolução, com taninos e acidez agressivos, ou como certos brancos, tornando-os mais macios, já que o tempo não foi suficiente para o fazer.

É preciso ter muito cuidado com os vinhos velhos e delicados, cuja fragilidade aconselha a decantá-los pouco antes de servir, a fim de preservar o bouquet. Os vinhos do Porto Vintage e LBV têm de ser decantados, sobretudo estes, por não serem filtrados.

Os Tawny, Madeira e Moscatel dispensam, em regra, a decantação. Os vinhos mais baratos não carecem de decantação, mas se forem servidos no decantador melhor, parecem outros...



8 UM VINHO DOC (DENOMINAÇÃO DE ORIGEM CONTROLADA) É MELHOR DO QUE UM VINHO REGIONAL?

Não. Trata-se apenas de classificações diferentes: DOC designa os vinhos produzidos numa região geograficamente delimitada, com legislação própria, nomeadamente sobre as castas recomendadas e autorizadas; Regional diz respeito a vinhos também produzidos numa região específica, mas não enquadrados nas regras DOC.

Assim, um produtor que usar uvas de castas não previstas para a região DOC, ou que tiver vinhas fora dela, perde o direito à designação DOC, mas pode pedir a classificação Regional. Nada disto tem que ver com a qualidade. Alguns dos melhores vinhos portugueses até são regionais.


Um produtor que usar uvas de castas não previstas para a região DOC ou que tiver vinhas fora dela, perde o direito à designação DOC, mas pode pedir a classificação Regional. Nada disto tem que ver com a qualidade dos vinhos. Alguns dos melhores vinhos portugueses até são regionais



9 O VINHO TINTO DEVE SER SEMPRE SERVIDO À TEMPERATURA AMBIENTE?

A ideia de servir o vinho tinto à temperatura ambiente é antiga e ainda está generalizada, mas não faz sentido. Vem do tempo em que não havia aquecimento central nas casas... Há vinhos tintos que devem ser servidos a 14/15 ºC, os mais leves, outros a 18/19 ºC, os mais encorpados, e é neste intervalo que se situa a temperatura recomendada para a generalidade dos tintos, conforme as características específicas de cada um e a estação do ano.

Se for preciso arrefecê-lo, nada obsta a que se ponha no frigorífico ou, em caso de emergência, por exemplo no restaurante, que se recorra ao balde com água e gelo. E para lhe aumentar a temperatura, pode recorrer a um balde com água quente.



10 O VINHO BRANCO DEVE ESTAR MUITO FRIO?

Os vinhos brancos querem-se frios mas não demais, como muitas vezes acontece. Os vinhos brancos mais ricos, se servidos a temperaturas inferiores a 12 ºC, fecham-se e perdem algumas das suas características.

Em termos gerais, recomendam-se as seguintes temperaturas: espumantes de 6 ºC a 8 ºC; brancos jovens e rosés de 8 ºC a 10 ºC; brancos velhos e/ou fermentados em madeira de 12 ºC a 14 ºC; tintos jovens e leves, de 14 ºC a 16 ºC; tintos robustos de 18 ºC a 19 ºC; vinhos generosos de 10 ºC a 12 ºC, exceto os Vintage e os LBV que devem ser servidos a 16 ºC/ 18ºC.


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